ARTE NA PANDEMIA DA GRIPE ESPANHOLA
Parte II
APOLLINAIRE
O Poeta Francês Guillaume Apollinaire
morreu jovem,
com apenas 38 anos,
vítima da gripe espanhola.
Ele foi um dos poetas mais importantes
da vanguarda francesa.
"Apollinaire" - Maurice de Vlaminck Pintor francês (1876-1958) |
" Guillaume Apollinaire" - Jean Metzinger Pintor francês (1883-1956) |
"A Musa Inspirando o Poeta - Marie Laurencin e Apollinaire" - Henry Rousseau Pintor francês (1844-1910) |
"Retrato de Guillaume Apollinaire (1914)" - Giorgio de Chirico Pintor italiano (1888-1978) |
"Caricatura de Apollinaire" - Picasso |
"Venham até a borda, ele disse.
Eles disseram: Nós temos medo.
Venham até a borda, ele insistiu.
Eles foram.
Ele os empurrou...
E eles voaram."
(Apollinaire)
A carpa
Carpas, viveis tão longa vida
Nesses viveiros de água fria!
Será que a morte vos olvida,
Ó peixes da melancolia.
La carpe
Dans vos viviers, dans vos étangs,
Carpes, que vous vivez longtemps!
Est-ce que la mort vous oublie,
Poissons de la mélancolie.
– Guillaume Apollinaire. “As carpas”.
(tradução de Raymundo Magalhães Júnior
Os seus poemas, O bestiário ou o Cortejo de Orfeu (1911), Álcoois (1913) e Calligrammes (1918), Zona, carregado de apologia ao cristianismo mesclado aos ideais futuristas, refletem a influência do simbolismo, com importantes inovações formais.
Bestiário ou Cortejo de Orfeu
Livro por Guillaume Apollinaire
"Esse livro do poeta modernista francês foi publicado em 1911 com xilogravuras de Raoul Dufy (reproduzidas nesta edição). Nele, o autor dialoga com a tradição — os bestiários medievais somados à poesia emblemática da renascença — e também retoma, pelo viés humorístico, a poesia de circunstância à moda de Mallarmé."
Xilogravura de Raoul Dufy
Incerteza, oh, que deleite
Vós e eu nos vamos
Como se vão os caranguejos,
para trás, para trás.
(Apollinaire)
Vós e eu nos vamos
Como se vão os caranguejos,
para trás, para trás.
(Apollinaire)
A Ponte Mirabeau
Escorre sob a ponte o rio Sena
E em nossos amores
A lembrança me acena
Vinha sempre o prazer depois da pena
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não vou embora
Mãos nas mãos esperemos face a face
Até que sob a ponte
Dos nossos braços passe
O eterno desse olhar em nosso enlace
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não vou embora
O amor se vai como água turbulenta
Assim o amor se vai
E como a vida é lenta
E como esta Esperança é violenta
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não vou embora
Os dias passam passam as semanas
Não voltam o passado
Nem as paixões humanas
E o Sena flui em águas soberanas
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não vou embora
Os dias passam passam mas que pena
Passado amor
Nenhuma volta acena
Na ponte Mirabeau se vai o Sena
A noite venha sem demora
Eu fico e o tempo vai embora
Le Pont Mirabeau
Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu’il m’em souvienne
La joie venait toujours après la peine
Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure
Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l’onde si lasse
Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure
L’amour s’en va comme cette eau courante
L’amour s’en va
Comme la vie est lente
Et comme l’Espérance est violente
Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure
Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennet
Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure
(Guillaume Apollinaire, em “31 Poetas 214 poemas — do Rigveda e Safo a Apollinaire”. [tradução, seleção e organização de Décio Pignatari]. 2ª ed., Campinas: Editora Unicamp, 1997.)
Caligramas de Apollinaire
"Caligrama é um tipo de poema visual nomeado e popularizado nos primórdios das vanguardas históricas do século XX, que se expressa através de uma original disposição gráfica do texto escrito, formando uma espécie de pictograma e representando um símbolo, objeto real ou figura que é a própria imagem principal do poema."
Vida e Obra de Apollinaire
"Guillaume Apollinaire (nascido Wilhelm Albert Włodzimierz Apolinary de Wąż-Kostrowicki, Roma, 26 de agosto de 1880 — Paris, 9 de novembro de 1918)
foi um escritor e crítico de arte francês, possivelmente o mais importante ativista cultural das vanguardas do início do século XX, conhecido particularmente por sua poesia sem pontuação e gráfica, e por ter escrito manifestos importantes para as vanguardas na França, tais como o do Cubismo, além de ser o criador da palavra Surrealismo.
Filho da condessa polaca Angelica Kostrowicka e de pai desconhecido- suspeita-se de um aristocrata suíço-italiano chamado Francesco Flugi d'Aspermont,passa seus primeiros anos entre Roma, Mônaco, Nice, Cannes, Baratier e Lyon. Desde 1902 foi um dos membros mais populares do bairro artístico parisiense de Montparnasse. Foram seus amigos e colaboradores Pablo Picasso, Max Jacob, André Salmon, Marie Laurencin, André Derain, Blaise Cendrars, Pierre Reverdy, Jean Cocteau, Erik Satie, Ossip Zadkine, Marcel Duchamp e Giorgio de Chirico.
Em 1901 e 1902, trabalhou como preceptor da menina Gabrielle em uma família alemã, na companhia da qual viajará pela Alemanha, tendo se apaixonado pela governanta inglesa Annie Playden, que o recusou, sendo que a mesma partiu em 1905 para a América. Da paixão não correspondida, surgiu Annie et La Chanson du Mal-Aimé.
Entre 1902 e 1907, de volta a Paris, trabalhou como empregado de bancos e começou a publicar contos e poemas em revistas. Em 1907, conhece a artista plástica Marie Laurecin, com quem terá uma tumultuada relação. É por essa época que decide viver de seus escritos. No começo de 1907, publica anonimamente As Onze Mil Varas. Em 1909 publicou o seu primeiro livro oficial: O Encantador em Putrefação, baseado na lenda de Merlin e Viviane. No mesmo ano, se dispõe a publicar uma antologia dos textos do Marquês de Sade, bem de acordo com uma característica sua que chocava os adeptos da tradição francesa: o fascínio pelo romance libertino. Assim, o mesmo foi o responsável pela introdução dos "livros malditos" de Sade na cena literária francesa do início do século, que até então era um escritor praticamente desconhecido. Na apresentação da edição, escreveu um longo ensaio biográfico no qual se referia à Sade como "o espírito mais livre que já existiu no mundo".
Em setembro de 1911, quando já era reconhecido como um dos poetas mais importantes da vanguarda parisiense, Apollinaire é acusado de cumplicidade no roubo de uma obra do Museu Louvre, nada menos que a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, roubo no qual Pablo Picasso, também já muito famoso, foi igualmente implicado. Ele é preso durante uma semana e depois liberado. Esta experiência marcá-lo-á. Aos olhos dos defensores das tradições clássicas, que se aproveitaram da situação para denunciar "atos de barbárie" dos estrangeiros contra a cultura nacional, pouco importava a inocência de Apollinaire no caso, visto que ele era acusado de atentar contra os valores da civilização, acusação esta estendida a outros estrangeiros radicados em Paris, como Pablo Picasso, Gertrude Stein e Stravinski.
Em 1913, Apollinaire publica Álcoois, coletânea de seus trabalhos poéticos desde 1898. Sua poesia dispensava a pontuação e a tipografia regular. Voltava-se para uma temática cosmopolita, na qual incluía novidades técnicas como o avião, o telefone, o rádio e a fotografia.
Em agosto de 1914, ele tenta alistar-se nas Forças Armadas Francesas, sem sucesso, visto que não possuía a nacionalidade francesa. Em dezembro de 1914, repete a tentativa, sendo aceite e iniciando seu processo de naturalização. Pouco antes de ingressar efetivamente nas Forças Armadas, conhece e se apaixona por Louise de Coligny-Châtillon, chamada por ele de "Lou". É uma jovem divorciada com um estilo de vida livre, que não esconde do poeta sua ligação com um homem por ela chamado de "Toutou". Ele dedicará a moça vários de seus poemas. Quando Apollinaire parte para o campo de batalha, uma correspondência de uma poesia notável nasce dessa relação. Ambos rompem em 1915, prometendo continuar amigos.
Em janeiro de 1915, Apollinaire conhece Madeleine Pagès num trem, de quem ficará noivo em agosto daquele mesmo ano. Mas em abril de 1915, ele parte com o regimento de artilharia de campo, N° 38, para a frente da batalha. Em março de 1916, é naturalizado francês, sendo que naquele mesmo mês é ferido gravemente na cabeça. Após longa convalescença, volta gradativamente ao trabalho. Em junho de 1917, sua peça Les Mamelles de Tirésias, drama surrealista mesclando desespero com humor e escrita durante sua recuperação do ferimento, é encenada. Ele também publicou um manifesto artístico chamado L'Esprit Noveau Et Les Poétes. Em 1918, publica os famosos Calligrammes, poemas gráficos sobre a paz e a guerra de notável lirismo visual. Casa com Jacqueline, a "bela russa" do poema "La Joulie Rousse", que publicará muitas de suas obras póstumas.
Morreu jovem com apenas 38 anos de idade, aos 9 de novembro de 1918, vítima da gripe espanhola, doença pandêmica que também chegou ao Brasil. Foi enterrado no cemitério de Père-Lachaise em Paris, tendo o seu túmulo uma escultura em forma de menir feita por Picasso.
Sua obra literária e crítica anunciava os princípios de uma nova estética que tinha como fundamento a ruptura com os valores do passado. Os seus poemas, O bestiário ou o cortejo de Orfeu (1911), Álcoois (1913) e Calligrammes (1918), Zona, carregado de apologia ao cristianismo mesclado aos ideais futuristas, refletem a influência do simbolismo, com importantes inovações formais. Ainda em 1913, apareceu o ensaio crítico Os pintores cubistas, em defesa do novo movimento como superação do realismo. Também foi autor de importantes manifestos futuristas e inventor, conforme comentários dos artistas contemporâneos reconhecidos por Breton, do termo surrealismo, para descrever a última das vanguardas do início do século XX."
Fotografia em preto e branco, 1916, cabeça enfaixada após ferimento na têmpora. |
"Apollinaire lutou na Primeira Guerra Mundial e, em 1916, recebeu ferimentos graves por estilhaços, um no pulmão e outro no templo, dos quais nunca se recuperaria completamente. Ele escreveu Les Mamelles de Tirésias enquanto se recuperava dessa ferida. Ele também publicou um manifesto artístico, L'Esprit nouveau et les poètes.
O status de Apollinaire como crítico literário é mais famoso e influente em seu reconhecimento do Marquês de Sade, cujas obras foram por muito tempo obscuras, mas surgindo em popularidade como influência nos movimentos de arte dadaísta e surrealista em Montparnasse no início. do século XX como "O espírito mais livre que já existiu"."
O status de Apollinaire como crítico literário é mais famoso e influente em seu reconhecimento do Marquês de Sade, cujas obras foram por muito tempo obscuras, mas surgindo em popularidade como influência nos movimentos de arte dadaísta e surrealista em Montparnasse no início. do século XX como "O espírito mais livre que já existiu"."