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19 de outubro de 2013

ARTE E A POESIA DE CASTRO ALVES E PINTURAS DE PESSOAS ESCREVENDO - DIA DO POETA 20 DE OUTUBRO










ARTE E LITERATURA


PINTURAS DE PESSOAS ESCREVENDO

A POESIA DE CASTRO ALVES
E OUTROS POETAS


Dia do Poeta
20 de Outubro


Poetas

Artistas das palavras.
Preenchem folhas em branco
com obras primas.
Retratam em palavras
os sentimentos da alma
e dos olhos.
Enxergam além dos mortais seres comuns,
tornando-se 'imortais'.

Poesias são pinturas sem tintas.
Parodiando Voltaire que escreveu
que "a pintura é poesia sem palavras".




Vermeer
Pintor holandês (1632-1675)



Música: "Tebe Poema" - Rachmaninoff

Sergei Rachmaninoff: Compositor, pianista e maestro russo (1873-1943)




Poetas e Poetisas

Eles sentam-se e escrevem o que sentem.
Escrevem em lugares fechados, em uma sala ou escritório, porém estão ali somente de corpo, pois suas almas e mentes estão passeando e viajando por outros lugares.

"Escritor em seu Escritório" - Gustave Caillebotte
Pintor francês (1848-1894)





"Jovem Escrevendo Uma Carta de Amor" - Pietro Rotari
Pintor italiano (1707-1762)







"Jovem Escrevendo" - Pierre Bonnard
Pintor francês (1867-1947)

"Fernando Pessoa" - Almada Negreiros
Pintora portuguesa

"Há duas formas para viver a sua vida: 
Uma é acreditar que não existe milagre. 
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre."
(Fernando Pessoa)



"Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois,

 antes,é necessário ser um."
(Fernando Pessoa)




Música:"Poema Singelo" - Heitor Villa-Lobos

Compositor brasileiro (1857-1959)
Intérprete: Pianista brasileira - Cristina Ortiz





Minha Homenagem ao Grande Poeta Brasileiro - Castro Alves

O primeiro poema a gente nunca esquece.
No meu caso foram os primeiros livros de poesia que nunca mais esqueci.
Conheci a poesia através de meu avô paterno, que presenteou-me com três mini-livros das "Poesias Completas" de Castro Alves, quando eu tinha uns 6 anos. Lógico que só fui lê-los anos depois.
Tenho guardado até hoje estes raros livros, como herança de infância. (Abaixo a fotografia destes livrinhos)
A poesia "Espumas Flutuantes" está guardada em minha memória e em minha alma até hoje. Li e me afeiçoei a ela desde sempre, com certeza porque amo e sempre amei o mar. E o poeta Castro Alves declamou o mar e suas ondas de forma linda e magicamente..."flutuantes".



"Espumas Flutuantes" - Castro Alves
(Parte I - Poesias Completas)

"... Das bandas do ocidente o sol se atufava nos mares, como um brigue em chamas...e daqueles vasto incêndio do crepúsculo alastrava-se a cabeça loura das ondas."
"... A onda invasora de azul, que descia das alturas...recordavam-se indecisos na penumbra do horizonte."
"... Longe, inda mais longe, os cimos...sumiam-se, abismavam-se numa espécie de naufrágio celeste."

"... Como as espumas, que nascem do mar e do céu, da vaga e do vento...e como as espumas são, as vezes, a  flora sombria da tempestade...mas, como as espumas flutuantes levam boiando nas solidões marinhas..."






Antônio Frederico de Castro Alves, nasceu na Bahia, em 1847 e faleceu em 1871.

Suas poesias são marcadas pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como "Poeta dos Escravos. Foi nosso mais inspirado poeta condoreiro.
Seu livro "Os Escravos" foi uma das primeiras obras a introduzir a realidade negra na literatura brasileira.

O pintor brasileiro Cândido Portinari retratou "O Navio Negreiro" inspirado no tema do livro de Castro Alves.

E também o pintor Rugendas retratou sua versão deste mesmo tema.



Rugendas

O pintor alemão que retratou o povo brasileiro






  • "Johann Moritz Rugendas foi um pintor alemão que viajou por todo o Brasil durante o período de 1822 a 1825, pintando os povos e costumes que encontrou."
  • "Navio Negreiro" - Rugendas
    Pintor alemão (1802-1858)

    "Navio Negreiro" - Cândido Portinari
    Pintor brasileiro (1903-1962)


    Os Escravos


    Castro Alves, simpatizante dos ideais liberais, levou o negro para a literatura brasileira, influenciado pelo escritor francês,Victor Hugo, autor de "Os Miseráveis".


    "Os Escravos" foi uma das primeiras obras a introduzir a realidade negra na literatura brasileira



    Resultado de imagem para Henry Chamberlain escravos
    "O Mercado de Escravos" - Henry Chamberlain


    Vozes d'África

    (Primeira Estrofe)
    (Castro Alves)

    Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
    Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
    Embuçado nos céus?
    Há dois mil anos te mandei meu grito,
    Que embalde desde então corre o infinito...
    Onde estás, Senhor Deus?...



    Navio Negreiro

    (Primeira estrofe)
    (Castro Alves)


    'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço 

    Brinca o luar — dourada borboleta; 

    E as vagas após ele correm... cansam 

    Como turba de infantes inquieta. 

    'Stamos em pleno mar... Do firmamento 

    Os astros saltam como espumas de ouro... 

    O mar em troca acende as ardentias, 

    — Constelações do líquido tesouro... 

    'Stamos em pleno mar... Dois infinitos 

    Ali se estreitam num abraço insano, 

    Azuis, dourados, plácidos, sublimes... 

    Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

    'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas 

    Ao quente arfar das virações marinhas, 

    Veleiro brigue corre à flor dos mares, 

    Como roçam na vaga as andorinhas... 

    Donde vem? onde vai?  Das naus errantes 

    Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? 

    Neste saara os corcéis o pó levantam,  

    Galopam, voam, mas não deixam traço. 

    Bem feliz quem ali pode nest'hora 

    Sentir deste painel a majestade! 

    Embaixo — o mar em cima — o firmamento... 

    E no mar e no céu — a imensidade! 

    Oh! que doce harmonia traz-me a brisa! 

    Que música suave ao longe soa! 

    Meu Deus! como é sublime um canto ardente 

    Pelas vagas sem fim boiando à toa! 

    Homens do mar! ó rudes marinheiros, 

    Tostados pelo sol dos quatro mundos! 

    Crianças que a procela acalentara 

    No berço destes pélagos profundos! 

    Esperai! esperai! deixai que eu beba 

    Esta selvagem, livre poesia 

    Orquestra — é o mar, que ruge pela proa, 

    E o vento, que nas cordas assobia... 

    .......................................................... 

    Por que foges assim, barco ligeiro? 

    Por que foges do pávido poeta? 

    Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira 

    Que semelha no mar — doudo cometa! 

    Albatroz!  Albatroz! águia do oceano, 

    Tu que dormes das nuvens entre as gazas, 

    Sacode as penas, Leviathan do espaço, 

    Albatroz!  Albatroz! dá-me estas asas. 





    *********************************

    Vinícius de Moraes
    Centenário de nascimento do "poetinha" brasileiro


    Música: "Para Viver um Grande Amor" - Vinícius de Moraes
    Intérpretes Toquinho e Vinícius






    Vinícius de Moraes foi um prolífico escritor e compositor.
    Ele escreveu inúmeros livros, poesias e canções.



    A CRIAÇÃO NA POESia


    Vinícius de Moraes (1913-1980)

    (Ideal - F
    ragmento)

    O poeta parte no eterno renovamento.

    Mas seu destino é fugir sempre ao homem que ele traz em si.
    O poeta:

    Eu sonho a poesia dos gestos fisionômicos de um anjo!

    .................................................................................................................

    E um só clamor saía de todos os peitos e vibrava em todos lábios — Ariana!

    E uma só música se estendia sobre as terras e sobre os rios — Ariana!

    E um só entendimento iluminava o pensamento dos poetas — Ariana!



    Assim, coberto de bênçãos, cheguei a uma floresta e me sentei às suas bordas — os regatos cantavam límpidos

    Tive o desejo súbito da sombra, da humildade dos galhos e do repouso das folhas secas

    E me aprofundei na espessura funda cheia de ruídos e onde o mistério passava sonhando

    E foi como se eu tivesse procurado e sido atendido — vi orquídeas que eram camas doces para a fadiga

    Vi rosas selvagens cheias de orvalho, de perfume eterno e boas para matar a sede

    E vi palmas gigantescas que eram leques para afastar o calor da carne.


    Descansei — por um momento senti vertiginosamente o húmus fecundo da terra

    A pureza e a ternura da vida nos lírios altivos como falos

    A liberdade das lianas prisioneiras, a serenidade das quedas se despenhando.

    E mais do que nunca o nome da Amada me veio e eu murmurei o apelo — Eu te amo, Ariana!

    E o sono da Amada me desceu aos olhos e eles cerraram a visão de Ariana

    E meu coração pôs-se a bater pausadamente doze vezes o sinal cabalístico de Ariana...
    ..........................................................................................................................................................



    Depois um gigantesco relógio se precisou na fixidez do sonho, tomou forma e se situou na minha frente, parado sobre a Meia-Noite

    Vi que estava só e que era eu mesmo e reconheci velhos objetos amigos.

    Mas passando sobre o rosto a mão gelada senti que chorava as puríssimas lágrimas de Ariana

    E que o meu espírito e o meu coração eram para sempre da branca e sereníssima Ariana

    No silêncio profundo daquela casa cheia da Montanha em torno.




    "Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele."
    (Platão)




    Parabéns a todos os poetas!



    13 de março de 2013

    ARTE EM POESIAS NO DIA DA POESIA





    ARTE EM POESIAS E PINTURAS





    Dia Nacional da Poesia -14 de março
    Dia Mundial da Poesia - 21 de Março


    Homenagem à Arte Poética

    e aos Poetas




    A Arte se Comunica Entre Palavras e Pinturas

    "A Pintura é uma Poesia Sem Palavras"
    (Voltaire)





    "Quixote" - Cândido Portinari
    Pintor brasileiro (
    1903-1962)



    Portinari e Drummond de Andrade


    Portinari Pintou
    Drummond Versou 

    "Quixote e Sancho"


    Cândido Portinari pintou, em 1956, uma série de 21 gravuras, focalizando dois personagens da literatura universal: D.Quixote e Sancho Pança, da obra "Dom Quixote" de Miguel de Cervantes. 

    Carlos Drummond de Andrade, em 1972, escreveu um livreto com 21 poemas, referente às gravuras do amigo pintor. Publicou-o com o título "Quixote e Sancho, de Portinari" em "As Impurezas do Branco" de 1973.

    A construção dos poemas revela duas leituras do poeta: do texto original de Cervantes ( de 1605) e dos cartões da série Quixote, de Portinari. Diante disto, a elaboração dos poemas pressupõe modos diferenciados de percepção do objeto de poesia pelo eu poético, um verbal e outro não-verbal, dinâmica que produz, no entrelaçamento de visões, um Quixote renovado, para deleite dos leitores de Cervantes, de Portinari e do próprio Drummond.
    (Fonte: http://pendientedemigracion.ucm.es/info/especulo/numero23/drummond.html)


                                  Portinari e Drummond





    Música:"Poema Singelo" - Heitor Villa-Lobos
    Compositor brasileiro (1857-1959)
    Intérprete: Pianista brasileira - Cristina Ortiz




    Abaixo estão cinco dos vinte e um poemas,
     que constituem a obra "Quixote e Sancho, de Portinari",
    de Carlos Drummond de Andrade, com as pinturas de Portinari.



    I  Soneto da loucura

    A minha casa pobre é rica de quimera
    e se vou sem destino a trovejar espantos,
    meu nome há de romper as mais nevoentas eras
    tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.

    Rola em minha cabeça o tropel de batalhas
    jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.
    Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,
    o que nele recolho é o olor da glória eterna.

    Donzelas a salvar, há milhares na Terra
    e eu parto e meu rocim, corisco, espada, grito,
    torto endireitando, herói de seda e ferro,

    E não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,
    na férvida obsessão de que enfim a bendita
    Idade de Ouro e Sol baixe lá nas alturas.




    II  Sagração

    Rocinante
    pasta a erva do sossego.
    A Mancha inteira é calma.
    A chama oculta arde
    nesta fremente Espanha interior.

    De geolhos e olhos visionários
    me sagro cavaleiro
    andante, amante
    de amor cortês e minha dama,
    cristal de perfeição entre perfeitas.

    Daqui por diante
    é girar, girovagar, a combater
    o erro, o falso, o mal de mil semblantes
    e recolher no peito em sangue
    a palma esquiva e rara
    que há de cingir-me a fronte
    por mão de Amor-amante.
    A fama, no capim
    que Rocinante pasta,
    se guarda para mim, em tudo a sinto,
    se de que bebo, vento que me arrasta.



                                              
                                        III  O esguio propósito

    Caniço de pesca
    fisgando o ar,
    gafanhoto montado
    em corcel magriz,
    espectro de grilo
    cingindo loriga,
    fio de linha
    à brisa torcido,
                  relâmpago
                  ingênuo
                  furor
    de solitárias horas indormidas
    quando o projeto a noite obscura.

    Esporeia
    o cavalo,
    esporeia
    o sem-fim.



    IV  Convite à glória

     Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.
    E de que me serve?
    Nossos nomes ressoarão
    nos sinos de bronze da História.
    E de que me serve?
    Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo,
    será tão grande.
    E de que me serve?
    As mais inacessíveis princesas se curvarão
    à nossa passagem.
    E de que me serve?
    Pelo teu valor e pelo teu fervor
    terás uma ilha de ouro e esmeralda.
    Isto me serve.



    V  Um em quatro



    A                                         Z
    b                                          y


    A&b                  Z&y

    Ab           yZ

    ABYZ
    quadrigeminados
    quadrimembra jornada
    quadripartito anelo
    quadrivalente busca
    unificado anseio

    um cavaleiro um cavalo um jumento um escudeiro





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    POESIA: Uma das Sete Artes Tradicionais


    História da Poesia

    "A poesia como uma forma de arte pode ser anterior à escrita.
    Muitas obras antigas, desde os Vedas indianos (1700-1200 a.C.) e os Gathas de Zoroastro (1200-900 a.C.), até a Odisseia (800 - 675 a.C.), parecem ter sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas
    A poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monolítos, pedras rúnicas e estrelas.
    O poema épico mais antigo sobrevivente é a Epopeia de Gilgamesh, originado no terceiro milênio a.C. na Suméria (na Mesopotâmia, atual Iraque), que foi escrito em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, papiro. Outras antigas poesias épicas incluem os épicos gregos Ilíada. e Odisseia, os livros iranianos antigos Gathas Avesta e Yasna, o épico nacional romano Eneida, de Virgílio, e os épicos indianos Ramayana e Mahabharata.
    Os esforços dos pensadores antigos em determinar o que faz a poesia uma forma distinta, e o que distingue a poesia boa da má, resultou na "poética", o estudo da estética da poesia. Algumas sociedades antigas, como a chinesa através do Shi Jing (Clássico da Poesia), um dos Cinco Clássicos do confucionismo, desenvolveu cânones de obras poéticas que tinham ritual bem como importância estética. 
    O contexto pode ser essencial para a poética e para o desenvolvimento do gênero e da forma. Poesias que registram os eventos históricos em termos épicos, como Gilgamesh ou o Shahnameh, de Ferdusi, serão necessariamente longas e narrativas, enquanto a poesia usada para propósitos litúrgicos (hinos, salmos, suras e hadiths) é suscetível de ter um tom de inspiração, enquanto que elegia (poesia triste) e a tragédia, são destinadas a invocar respostas emocionais profundas.
    Outros contextos incluem cantos gregorianos, o discurso formal ou diplomático, retórica e invectiva políticas, cantigas de roda alegres e versos.
    O historiador polonês de estética Władysław Tatarkiewicz, em um trabalho acadêmico sobre "O Conceito de Poesia", traça a evolução do que são na verdade dois conceitos de poesia. Tatarkiewicz assinala que o termo é aplicado a duas coisas distintas que, como o poeta Paul Valéry observou, "em um certo ponto encontram união". 
    A poesia é uma arte baseada na linguagem. Mas a poesia também tem um significado mais geral que é difícil de definir, porque é menos determinado: a poesia expressa um certo estado da mente."


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    DOIS POETAS
    MESMA LÍNGUA
    DOIS ESTILOS

    Castro Alves e Fernando Pessoa



    CASTRO ALVES

    "Minha Alma Apegava-se à Forma Vacilante das Montanhas"


    Castro Alves - Poeta brasileiro (1847-1871)


    "Espumas Flutuantes"


    ERA por uma dessas tardes em que o azul do céu oriental — é pálido e
    saudoso, em que o rumor do vento nas vergas — e monótono e cadente, e o quebro da vaga 
    na amurada do navio— e queixoso e tétrico.
    Das bandas do ocidente o sol se atufava nos mares ''como um brigue em chamas..."
    e daquele vasto incêndio do crepúsculo alastrava-se a cabeça loura das ondas.
    Além... os cerros de granito dessa formosa terra de Guanabara, vacilantes, a
    lutarem com a onda invasora de azul, que descia das alturas... recortavam-se indecisos na 
    penumbra do horizonte.
    Longe, inda mais longe... os cimos fantásticos da serra dos Órgãos embebiam-se 
    na distância sumiam-se, abismavam-se numa espécie de naufrágio celeste.Só e triste, encostado à borda do navio, eu seguia com os olhos aquele
    esvaecimento indefinido e minha alma apegava-se à forma vacilante das montanhas —
    derradeiras atalaias dos meus arraiais da mocidade.
    E que lá, dessas terras do sul, para onde eu levara o fogo de todos os entusiasmos, 
    o viço de todas as ilusões, os meus vinte anos de seiva e de mocidade, as minhas esperanças 
    de glória e de futuro;. . . é que dessas terras do sul, onde eu penetrara "como o moço Rafael 
    subindo as escadas do Vaticano";... volvia agora silencioso e alquebrado... trazendo por
    única ambição—a esperança de repouso em minha pátria.
    Foi então que, em face destas duas tristezas — a noite que descia dos céus,—a 
    solidão que subia do oceano—, recordei-me de vós, ó meus amigos!
    E tive pena de lembrar que em breve nada restaria do peregrino na terra
    hospitaleira, onde vagara; nem sequer a lembrança desta alma, que convosco e por vós
    vivera e sentira, gemera e cantara. . .
    Ó espíritos errantes sobre a terra! Ó velas enfunadas sobre os mares!.. . Vós bem 
    sabeis quanto sais efêmeros... —passageiros que vos absorveis no espaço escuro, ou no
    escuro esquecimento.
    E quando—comediantes do infinito— vos obumbrais nos bastidores do abismo, o 
    que resta de vós?
    — Uma esteira de espumas.. — flores perdidas na vasta indiferença do oceano.—
    Um punhado de versos... —espumas flutuantes no dorso fero da vida!...
    E o que são na verdade estes meus cantos?...
    Como as espumas, que nascem do mar e do céu, da vaga e do vento, eles são filhos 
    da musa—este sopro do alto: do coração _ este pélago da alma.E como as espumas são, às vezes, a flora sombria da tempestade, eles por vezes 
    rebentaram ao estalar fatídico do látego da desgraça
    E como também o aljofre dourado das espumas reflete as opalas, rutilantes do
    arco-íris, eles por acaso refletiram o prisma fantástico da ventura ou do entusiasmo— estes 
    signos brilhantes da aliança de Deus com a juventude!
    Mas, como as espumas flutuantes levam, boiando nas solidões marinhas, a lágrima 
    saudosa do marujo... possam eles, ó meus amigos!—efêmeros filhos de minh'ahna—levar 
    uma lembrança de mim às vossas plagas!
    (Castro Alves)




    FERNANDO PESSOA


    "Quem tem Alma Não tem Calma"


    "Retrato de Fernando Pessoa" - Almada Negreiros
    Pintora portuguesa (1893-1970)
    Fernando Pessoa - Poeta português (1888-1935)


    "Não Sei Quantas Almas Tenho"

    Não sei quantas almas tenho.
    Cada momento mudei.
    Continuamente me estranho.
    Nunca me vi nem achei.
    De tanto ser, só tenho alma.
    Quem tem alma não tem calma.
    Quem vê é só o que vê,
    Quem sente não é quem é,
    Atento ao que eu sou e vejo.
    Torno-me eles e não eu.
    Cada meu sonho ou desejo
    É do que nasce e não meu.
    Sou minha própria paisagem,
    Assisto à minha passagem,
    Diverso, móbil e só,
    Não sei sentir-me onde estou.

    Por isso, alheio, vou lendo
    Como páginas, meu ser.
    O que segue prevendo,
    O que passou a esquecer.
    Noto à margem do que li
    O que julguei que senti.
    Releio e digo: "Fui eu"?
    Deus sabe, porque o escreveu.
    (Fernando Pessoa)



    "O Poeta é um Fingidor" - Fernando Pessoa


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    A Fonte Inspiradora dos Poetas e a Mitologia Grega



    A Origem do Termo usado pelos Poetas e artistas: "Musa Inspiradora"


    A fonte de Hipocrene é considerada uma fonte de inspiração poética por excelência, segundo a mitologia, sendo que quem bebia das suas águas ficava em comunhão com as musas inspiradoras.Hipocrene (do grego: "fonte do cavalo"), também conhecida por fonte de Hélicon, é uma nascente de água doce situada na encosta leste do Monte Hélicon na região de Téspias, na Grécia. Esta fonte é tradicionalmente consagrada na Mitologia Grega ao Deus Grego Apolo e às musas, que teria brotado de uma pedra fendida por uma patada de Pégaso, o cavalo alado mitológico. O poeta grego Hesíodo descreveu sobre como ele havia, em sua juventude, levado suas ovelhas para pastar sobre as encostas do Monte Hélicon, onde Eros e as Musas já tinham santuários e um campo de danças próximo ao topo. Lá, as Musas lhe teriam inspirado, cantando-lhe sobre a origem dos deuses.



    Na pintura abaixo: o poeta grego Hesíodo e sua musa inspiradora






    As Musas Mitológicas

    As musas eram entidades mitológicas a quem era atribuída, na Grécia Antiga, a capacidade de inspirar a criação artística ou científica. Na mitologia grega, eram as nove filhas de Mnemosine  e Zeus.

    As nove musas e suas representações nas artes ou ciência:

    1- Calíope (Bela voz): Eloquência
    2- Clio ( A Proclamadora): História
    3- Erato (Amável): Poesia Lírica
    4- Euterpe ( A Doadora de prazeres): Música
    5- Melpomêne ( A Poetisa): Tragédia (teatro)
    6- Polímnia (A de muitos Hinos): Música Cerimonial (sacra)
    7- Tália (A que faz Brotar Flores): Comédia
    8- Terpsícore (A rodopiante): Dança
    9- Urânia (A Celestial): Astronomia e Astrologia

    O templo das musas era o 'Museion', termo que deu origem à palavra museu nas diversas línguas indo-europeias como local de cultivo e preservação das artes e ciências.


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    Poema Persa: "Rubaiyat de Omar  Khayyam"
    Traduzido por Edward Fitzgerald


    O Rubaiyat de Omar Khayyam" é  um dos dez melhores 
    poemas conhecidos do mundo, e provavelmente a peça mais popular da literatura oriental 
    no mundo ocidental.



    Rubaiyat de Omar Khayyam é o título dado pelo inglês Edward Fitzgerald
    para a sua tradução de uma seleção de poemas,
    originalmente escritos em persa e atribuídos a Omar Khayyam (1048 - 1131), um poeta, matemático, filósofo e astrônomo da Pérsia.
    Um rubai é uma estrofe de duas linhas, com duas partes (hemistíquios) cada, daí o termo Rubaiyat (derivado da palavra árabe para "quatro", ou "quadra, originando as quadras, o conjunto de versos dos poemas).


    Capa do Livro "Rubaiyat"



     Pintura representando Omar Khayyam



    Música e Poema: "O Rubayiat de Omar Kayyam" - Alan Hovhaness
    Compositor armênio-americano (1911-2000)
    (Com narração do ator Michael York)


    "Afeto, amor, compreensão,
    Eis os alicerces da vida.
    Escrevemos com amor o poema da adolescência.
    Com a música do amor, orquestramos a grande canção da existência.
    E tu, cético diante da ternura,
    impermeável ao sentimento, 
    aprende esta verdade:
    A vida é Amor, e nada mais!"
    Omar Khayyám (Rubáiyát)



    Poema Rubaiyat

    "Debaixo de um arbusto, um pão e uma garrafa
    de vinho e os meus poemas: tudo o que preciso.
    E tu, que do meu lado cantas no deserto,
    e o deserto se torna, então, no paraíso.

    "Entrado no universo, sem saber porquê,
    nem de onde, tal qual a água, queira ou não, a fluir;
    e fora dele, como o vento em descampado
    soprando, queira ou não, sem saber para onde ir.

    No céu, à mão esquerda da alvorada; eu sonho.
    Na taberna, uma voz escuto na algazarra:
    “Despertai, meus pequenos, e enchei bem o copo
    antes que seque o vinho da vida em sua jarra”.

    Ah! Enche o copo! De que serve repetir
    que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo?
    O amanhã não nasceu e o ontem já morreu,
    por que me hei-de importar, se o dia de hoje é lindo?

    E ao côncavo invertido que se chama céu,
    sob o qual rastejaram o vivo e o que morreu,
    não ergas tuas mãos, pedinte. Ele é impotente
    no seu girar, tal qual o somos tu ou eu.

    O dedo que se move escreve, e, tendo escrito,
    se vai. E toda a argúcia e piedade, entretanto,
    não o trarão de volta a mudar meia linha,
    nem as palavras podes apagar com o pranto.
    E se o vinho que bebes, o lábio que oprimes
    findam nesse nada que a tudo dá sumiço,
    imagina, então, que és; não podes ser senão
    o que hás-de ser: nada. Não serás menos que isso.

    Façamos o que é mais do que ainda há por fazer
    antes que também nós ao pó vamos enfim.
    O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer
    sem vinho, sem canções e sem cantor... sem fim.
    É tudo um tabuleiro de noites e dias;
    os homens são peças, e o fado temerário
    com elas joga, e move, e toma, e dá o mate,
    e uma a uma as recolhe, e vai guardar no armário.
    Façamos o que é mais do que ainda há por fazer
    antes que também nós ao pó vamos enfim.
    O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer sem vinho,
    sem canções e sem cantor... sem fim.






    ****************************************************


    UM ARTISTA
    DUAS ARTES
    DOIS DONS

    Em Cores e Palavras



    LOUIS JANMOT
    Pintor e Poeta Francês


    "Poemas da Alma - O Ideal"



    "A Criação Divina"


    A CRIAÇÃO DIVINA

    "No momento escolhido pelo infinita sabedoria
    Nada é derrotado e dá a vida:
    O abismo, escuro e silencioso,
    A alma humana se eleva para a clareza do céu "


    "A Passagem das Almas"


    A PASSAGEM DAS ALMAS

    “Desde o início da missão do anjo guardião
    Deus lhe deu, tomou em seus braços, adormecido
    Aquele que será o conselheiro e amigo,
    Ele se atira no espaço”.



    "O Anjo e a Mãe"


    O ANJO E A MÃE

    "Somente vós sabeis, meu Deus, quais perigos,
    Quais alarmes ameaçam vossa criança...
    Tende piedade dela, Senhor, pelo coração desta mãe
    Cheio de amor tão santo, forte e tão doce."

    Poemas e pinturas de Louis Janmot (Poeta e pintor francês - 1814-1892)
    (Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Louis_Janmot)




    Abaixo uma pintura homenageando Catalou ou Catalus, que foi um poeta latino-romano, que escreveu e declamou seus poemas em latim. Nasceu por volta do ano 84 a. C. e morreu  cerca do ano 54 antes de Cristo.

    "Catalo Lendo seu Poema"